RETRATO DE D. JOÃO IV, REI DE PORTUGAL

Retrato del rey Juan IV de Portugal [ES]
Portrait of King John IV of Portugal [EN]
Portrait du roi Jean IV de Portugal [FR]
Porträt von König Johann IV. von Portugal [DE]
ポルトガル王ジョアン4世の肖像 [JA]
Artes visuais
Não identificado
- Autor

Portugal
- Produtor

Descrição:
Representação, a óleo sobre tela, de D. João IV, Rei de Portugal. Retrato pictórico. Produção portuguesa, de autor não identificado, datável de cerca de 1777-1788.

Pintura a óleo sobre tela, emoldurada, representando D. João IV, Rei de Portugal (1604-1656; rei de 1640 a 1656), obra portuguesa de autor desconhecido, realizada provavelmente entre 1777 e 1788 O retratado surge de corpo inteiro, de pé, voltado a três quartos para a direita, com o olhar dirigido em frente e numa postura solene, característica da retratística áulica. Exibe a cabeça descoberta, com o cabelo caído sobre o pescoço, bigode e uma pequena faixa de barba no centro do queixo. Enverga indumentária sóbria, representativa da moda ibérica de meados do século XVII: gibão preto justo ao torso, sobre o qual assenta uma casaque castanha curta, sem mangas, e calções castanhos, ajustados abaixo dos joelhos por laços de fita. Por baixo do gibão, junto ao pescoço, sobressai a gola branca da camisa. Sobre as costas, uma capa castanha presa, de cair reto, prolonga-se sensivelmente até meio da coxa. Completa o traje com meias e sapatos pretos de tacão, com fivela metálica. A mão direita repousa sobre a anca, enquanto a esquerda apoia-se na empunhadura de uma espada dourada, do tipo rapier, suspensa a tiracolo por talim de couro, conferindo-lhe um ar de autoridade. Preso no cinto que ajusta a casaque, do lado esquerdo, distingue-se um documento ou missiva, parcialmente encaixado. Ao peito, pendente de um longo colar, destaca-se uma medalha com a insígnia da Ordem Militar de Cristo, símbolo da sua dignidade enquanto rei e grão-mestre da Ordem. Junto ao pé direito, uma cartela apresenta a inscrição "D. IOÃO. 4. R. P.", sendo estas últimas iniciais uma abreviatura em latim para Rex Portugaliae, ou seja, Rei de Portugal. O fundo da composição, em tons de preto, castanho e ocre, é contido, austero e nobre, conferindo monumentalidade ao retrato. A pintura é envolta por moldura retangular em madeira dourada, decorada com perlados. Na parte inferior, uma placa dourada apresenta, em relevo, a inscrição: "D. JOÃO IV".

D. João IV, cognominado o "Restaurador", foi rei de Portugal e dos Algarves de 1640 até à sua morte, em 1656. Exerceu igualmente o título de 8.º duque de Bragança entre 1630 e 1645. Nasceu em Vila Viçosa a 19 de março de 1604 e faleceu em Lisboa a 6 de novembro de 1656. Foi o principal protagonista da Revolução de 1 de Dezembro de 1640, que pôs termo à monarquia dual – a chamada União Ibérica (1580–1640), durante a qual Portugal e Espanha estiveram sob o domínio de um mesmo monarca da Casa de Habsburgo – restaurando a soberania portuguesa e tornando-o o primeiro rei da dinastia de Bragança. Em 1633, casou-se com D. Luísa de Gusmão, de nobre linhagem castelhana, que se destacou como figura influente na corte e, mais tarde, como regente do reino. À frente da monarquia restaurada, João IV liderou o esforço político e militar da Guerra da Restauração, assegurando a consolidação da independência face à Coroa de Espanha.

Este quadro integra um conjunto de retratos áulicos de membros da dinastia de Bragança, que inclui igualmente as representações dos reis de Portugal D. Afonso VI (1643-1683; rei de 1656 a 1683), D. Pedro II (1648-1706; rei de 1683 a 1706), D. João V (1689-1750; rei de 1706 a 1750), D. José I (1714-1777; rei de 1750 a 1777) e D. Maria I (1734-1816; rainha de 1777 a 1816) com o marido D. Pedro III (1717-1786; rei consorte de 1777 a 1786). A série contempla ainda os príncipes herdeiros D. Teodósio, 1.º Príncipe do Brasil (1568-1653), D. José, 8.º Príncipe do Brasil (1761-1788), e D. João, 9.º Príncipe do Brasil e futuro rei D. João VI (1767-1826; rei de 1822 a 1826), bem como o infante D. Duarte, irmão de D. João IV (1605-1649). Dotadas de forte carga simbólica e política, estas efígies régias integravam um programa visual de exaltação do poder real, típico do final do Antigo Regime. Visavam afirmar a autoridade do Estado absoluto e reforçar a legitimidade do domínio político, militar e judicial do Império sob a figura do soberano. Os retratos provêm da antiga Junta da Fazenda Pública, criada por carta régia de 2 de agosto de 1766 e instalada no edifício da Alfândega de Angra. Estavam originalmente dispostos numa ampla sala de receção, sobre cuja cadeira da presidência figurava também uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Reino. Presume-se que a série tenha sido executada entre 1777, ano da subida ao trono de D. Maria I, e 1788, data da morte do príncipe herdeiro D. José, 8.º Príncipe do Brasil, sendo o retrato de D. João, futuro D. João VI, uma exceção, por ter sido pintado mais tarde, cerca de 1788-1789, após o falecimento do irmão e a sua proclamação como 9.º Príncipe do Brasil. A transferência do conjunto para o Palácio dos Capitães-Generais ocorreu por volta de 1840, por iniciativa do governador civil José Silvestre Ribeiro (1807-1897), administrador do distrito de Angra do Heroísmo entre 1839 e 1844, que ali fixou a sede da sua residência oficial. Atualmente, os retratos encontram-se expostos no Salão de Baile, também conhecido por Sala dos Reis de Bragança.
PEDRO PASCOAL DE MELO (março, 2025

Bibliografia consultada:
  • COSTA. Leonor Freire; CUNHA, Mafalda Soares da. D. João IV. Lisboa: Círculo de Leitores, 2011.
  • FRANCO, Anísio. “As séries régias do Mosteiro de Santa Maria de Belém e a origem das fontes da iconografia dos reis de Portugal”, in FRANCO, Anísio [coord.], Jerónimos: 4 séculos de pintura [Catálogo de exposição]. Lisboa: Mosteiro dos Jerónimos/IPPAAR, 1993, vol. I, p. 292-337.
  • GONÇALVES, Susana Cavaleiro Ferreira Nobre. A arte do retrato em Portugal no tempo do barroco (1683-1750): Conceitos, tipologias e protagonistas [Tese de Doutoramento]. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2013 (Disponível em:  A arte do retrato em Portugal no tempo do barroco (1683-1750. Consulta em: 29 jan. 2025).
  • KÖHLER, Carl. História do vestuário. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 
  • LEITE, José Guilherme Reis [et al.]. Palácio dos Capitães-Generais. Ponta Delgada: Presidência do Governo Regional dos Açores, 2012.
  • MARTINS, Francisco Ernesto de Oliveira. Palácio dos Capitães-Generais: Subsídios para a sua história. Angra do Heroísmo: Secretaria Regional da Administração Interna, 1989.

Totais [tela e moldura] :
Nº de Inventário:
PGRA-PCG0975
Data de produção:
circa 1777-1788
Material e técnicas
[Pintura] Óleo s/tela - Pintura
[Moldura] Madeira e ouro - Ensamblada e dourada
Incorporação:
Esta peça integra um conjunto de bens que, na sequência da criação da Região Autónoma dos Açores em 1976, foram incorporados no património regional, provenientes dos extintos Governos Civis e Juntas Gerais dos Distritos Autónomos de Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada. Desde então, pertence às coleções da Presidência do Governo Regional dos Açores, encontrando-se atualmente em exibição no Palácio dos Capitães-Generais, em Angra do Heroísmo.

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