Lata
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Etnografia

Título Alternativo:
Lata de conserva da Fábrica Marie D' Anjou
Descrição:
Lata em folha de Flandres, para acondicionamento de atum em conserva, pertencente à fábrica Marie d' Anjou.
Instalada em 1946, na encosta do cais da Calheta, a primitiva fábrica de conservas pertencia ao empresário algarvio Eduardo Quintela (detentor da marca “Marie d’Anjou desde finais do século XIX) que, no início dos anos 50, a vendeu ao relojoeiro suíço Jean Southier. Na década seguinte e até 1971, esta unidade fabril laborou, já sob a liderança e propriedade dos empresários jorgenses, Nun’Álvares Mendonça e Wagner Mendonça. 
Ao longo destas décadas, a Fábrica de Conservas Marie d’Anjou empregou centenas de trabalhadores por toda ilha, especialmente durante a época da faina (de março a outubro). Mas o impacto socioeconómico mais significativo ter-se-á feito sentir entre a população feminina pois, apesar das duras condições de trabalho, a indústria conserveira propiciou uma ténue emancipação da mulher, durante o Estado Novo, nos Açores.
Numa época em que os homens, em idade ativa, eram recrutados para o serviço militar e mobilizados para a Guerra Colonial, o setor fabril era muitas vezes assegurado por mulheres. A Fábrica de Conservas Marie d’Anjou dispunha de transporte próprio, que percorria a ilha a recolher trabalhadoras, bem como de dormitórios e refeitórios, que lhes estavam destinados para os períodos de descanso, havendo apenas uma dispensa semanal dedicada ao serviço religioso. Neste regime confinado, ficavam sujeitas à autoridade e a abusos, por parte de quem dependiam, em termos hierárquicos, económicos e sociais.
Em contrapartida, as mulheres ali encontravam trabalho renumerado, até então inédito nas ilhas, e assim conseguiam ajudar a família, preparar o dote ou investir nos estudos. Entre 1950 e 1970, e com autorização, concedida pelo pai e depois pelo marido, ingressavam na fábrica muito jovens e ainda solteiras, faziam um interregno para casar e voltavam após o nascimento dos filhos.
 Às mulheres estavam reservadas as funções de escolha do peixe, enlatamento e azeitamento. Ao longo dos anos, muitas eram promovidas a “mestres de pessoal” ou à área da cravação da lata, maioritariamente reservadas a homens. A estas promoções de cargo não correspondiam aumentos de salário, que permanecia baixo, consolidando a desigualdade de género. Mesmo assim, o testemunho de antigas trabalhadoras mostra que, apesar da fraca remuneração, o seu trabalho era considerado uma mais-valia, não só para si próprias, mas também para o comércio local e serviços.
No contexto da emancipação feminina, propiciada pela atividade fabril, nos Açores, são de destacar Leonor Teixeira e Clara Wallenstein, esta última proprietária da Sociedade de Conservas Corretora, Lda. Leonor Teixeira começou a trabalhar na fábrica, com sede em Ponta Delgada, aos 10 anos, antes do seu casamento com José Teixeira, filho de Clara Wallenstein. Na década de 50, a Sociedade Corretora adquiriu a Fábrica de Conservas de Santo Cristo, Lda., em São Jorge. Para preparar a sua instalação, Leonor Teixeira, sob indicação da sogra, viajou entre as duas ilhas, numa traineira de pesca, acompanhada apenas pela tripulação, usufruindo de uma liberdade e realizando uma série de empreendimentos pouco comuns entre a população feminina de então.

 

Dimensões:
A. 11.5 x D. 16.8 cm
Nº de Inventário:
MFLIC021035
Data de produção:
1946 - 1971
Material e técnicas
Folha de flandres (aço/ ferro/ estanho) - Laminação/ corte/ soldagem/ litografia
Entidade relacionada
Museu Francisco Lacerda

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